21/11/2007

Roadmap do 1º projecto

A ideia é simples.
Em Setembro de 2008, eu e o Zé Diogo voamos para o Quénia, levando connosco as bicicletas, todo o equipamento de montanha e o equipamento necessário para instalação e monitorização do poste.
Da entrada do parque natural até à base do Kilimanjaro é obrigatório irmos em jipes próprios do parque, mas a partir daí sentamos no selim e aqui vai disto, montanha acima.
O poste será transportado por nós, desmontado, até ao glaciar Furtwangler. Aí faremos a perfuração necessária e instalação do poste.
Nesse momento a missão está concluída com êxito.
A escalada ao cume é uma opção.
A monitorização do poste deverá ser realizada regularmente (com uma periodicidade trimestral) e convenientemente divulgada. A forma de monitorização não está ainda definida e dependerá das autoridades do parque natural.

Este blog tem apenas um papel de acompanhamento cronológico do projecto.
Á medida que o Ice Care for ganhando corpo, irão sendo criados outros suportes informativos.

Naturalmente, o projecto Ice Care está dependente de um conjunto de “thumbs up”:
. obter a autorização do parque natural para perfurações nos glaciares;
. assegurar a cobertura mediática adequada;
. garantir os patrocínios necessários;
. estabelecer rotinas de monitorização do poste, com os guias do parque.

7 years

Feb 1993












Feb 2000












The top of the mountain has seen a retreat of the most recent covering of glaciers. In 2002, a study led by Ohio State University ice core paleoclimatologist Lonnie Thompson predicted that ice on top of Africa’s tallest peak would be gone between 2015 and 2020.

2015


Estava no meu quarto de hotel, no Savoy Boutique em Tallinn, tinha chegado à Estónia há 2 dias, em trabalho. Às 5 da tarde era noite e estavam 4º negativos lá fora. Tinha 2 horas até ao jantar e decidi agarrar-me ao projecto Ice Care (que na altura não tinha ainda nome).
Criei um ppt a que chamei Kilimanjaro e abri um ficheiro a que chamei Sports for a Cause.
Comecei a preparar toda a argumentação para os nossos apoiantes – fossem quem fossem.
Preparei tudo em inglês. Alimento uma remota esperança que a iniciativa possa atingir uma escala internacional. Gosto de trabalhar no mais frio realismo...mas ocasionalmente deixo-me deambular por sonhos de megalomania – acho que não tem mal nenhum.

Só nessa altura é que comecei a inteirar-me realmente daquilo que se passa no Kilimanjaro.

A primeira coisa que descobri foi a razão do apelido ‘eternas’ – o facto é que as neves do Kilimanjaro existem há mais de 12.000 anos.

Lonnie Thompson, professor de ciências geológicas na universidade de Ohio, tem realizado várias expedições ao cume, para avaliar a extensão do fenómeno.
Nas suas palavras, a expedição de 2002 foi como “...visiting a sick friend in failing health.”

Segundo as previsões resultantes da última expedição, os glaciares terão desaparecido integralmente entre 2015 e 2020, vítimas, pelo menos em parte, do aquecimento global.

Aparentemente a questão é mais complexa do que eu pensava à partida.
O professor Thompson coloca a questão: “What will happen to the water supply for these people when the glaciers disappear?”
Este não é um caso de extinção de uma espécie qualquer de animais, mas de um ecossistema vivo e das reservas de água de várias populações locais, que não terão outro remédio senão abandonar as suas casas, na altura em que o último glaciar desaparecer.

O mundo irá começar a assistir ao nascimento de um novo tipo de refugiados?
Entraremos na era dos eco-refugiados?

Os timings são alarmantes. Temos menos de 7 anos para inverter ou pelo menos atenuar esta catástrofe ecológica.
Isso passa pela alteração imediata, efectiva e permanente de comportamentos.
Tal como nas campanhas de prevenção do HIV, deveriam ser divulgados comportamentos de risco ecológico.

No final do trabalho enviei o primeiro draft do ppt ao Zé Diogo que gostou muito....eu nem tanto – acho que está ainda fraco.

Saí para jantar. Em Tallinn tudo é perto, mas mesmo a curta distância deu para enregelar os dedos das mãos, nariz e orelhas. Pensei na subida do Kilimanjaro, pensei no frio junto aos glaciares – contrai os músculos e adoptei a atitude, sempre falível, de que o frio é psicológico – senti-me melhor durante alguns segundos...

No jantar dessa noite, discuti com os meus colaboradores locais, a percepção que tinham sobre o fenómeno de aquecimento global.
Para mim estava um frio de rachar, mas para eles as alterações eram evidentes.
Mas mais uma vez eram sensações, não mais do que isso, que caiam no vazio entre a percepção empírica dos dias mais quentes e a vaguíssima referência de gráficos científicos.
Lembro-me de pensar que seria interessante se cada país pudesse identificar as suas próprias neves do Kilimanjaro, se a população de cada país pudesse observar os efeitos do aquecimento em ícones locais. Muito poucos podem, na realidade fazê-lo.
O objectivo do projecto Ice Care, é identificar 5 pontos do globo, onde o aquecimento global seja visível a olho nu, palpável e instalar barómetros simples. É urgente chamar a atenção da comunidade não-científica – isso só é possível utilizando instrumentos de medição não-científicos.

17/11/2007

Starting point



It’s October and I’m driving with my window opened and wearing a t-shirt. On the phone with my longtime friend José Diogo, I start considering the ascent of Kilimanjaro.
He’s reluctant. He did it once already and claims the snows are melting anyway, and his interest in doing it again, with considerably less snow...is far from enthusiastic.

What do you mean, the snows are melting down? I ask. Global warming you mean?

So, that’s what the fuss is all about – it’s really happening – global warming!

The severity of the situation was never so clear to me, as it was in that moment. It’s really serious stuff! Landscape in our planet is changing irreversibly!
It felt like I was ‘witnessing’ global warming for the first time. Al Gore’s graphs were impressive, but I forgot all about it the next day. But this striking impact of the snow cap of Kilimanjaro was really disturbing. Never a stronger image had flashed in my mind like this one.
Could it be that other people would feel the same way as I do about it? Was there a way we could show this to the world, to make it react?
I figured that, if we could get people to witness this catastrophe in real time, some of them could change the way they behave towards environment. Kilimanjaro snows are familiar to everyone – either from the Discovery Channel or from Hemingway’s novel – but the fact is, after 2015 it will disappear…irreversibly.

I called José Diogo again.

What about climbing the Kilimanjaro and placing some kind of non-scientific measurement system, a barometer of some kind, like a pole with marks or something? I asked him.

He liked it. He got the idea immediately.

What if we would cycle up the Kilimanjaro instead of climbing – that would be news worthy and, maybe, we could get to the people that way? I added.

I think it can be done, going through the least steep route, don’t think anyone has ever done it, though. He replied.

Well….that’s even better! I said.

Inspiração


Em Fevereiro de 2006, Charlie, Ray e Kevin tornaram-se os primeiros seres humanos a atravessar África, costa-a-costa, através do deserto do Sahara...a correr.
Durante 111 dias, percorreram 6,920 quilómetros, atravessando de 6 países: Senegal, Mauritania, Mali, Niger, Libya e Egipto.

Mais do que uma iniciativa pioneira, inédita e heróica, esta travessia foi também uma campanha de sensibilização para a falta de água em África, apoiada pela fundação H2O Africa.

Os ecos que me chegaram desta expedição, despertaram em mim a vontade de começar a realizar projectos de algo a que chamei, à falta de melhor expressão – desporto de intervenção.

Na época, não tinha a menor ideia de como associar as duas coisas, em primeiro lugar porque não sabia que iniciativas desportivas desenvolver e em segundo lugar porque não sabia que ‘causas’ abraçar.

Sabia que, mais cedo ou mais tarde, se me apegasse ao conceito, alguma ideia me surgiria.